A Mafra, “simbólica e imensurável, caber-lhe-ia fornecer a ilustração visual e retórica de um poder absoluto. As fontes nacionais parecem concordar em relação ao voto sucessório feito por D. João V, em consequência do qual o monarca autorizou, em 1711, a edificação de um convento franciscano em Mafra. Todavia, nos anos que medeiam entre 1711 e 1717, data do lançamento da primeira pedra, ocorreu uma primeira alteração de planos, e os alicerces abertos em 1716 tinham já em vista um convento de 80 monges e não de 13, como estava originalmente previsto.
Os trabalhos desta fase prolongar-se-iam até aos primeiros anos da década de 1720, quando D. João V reformulou por completo a sua ideia para Mafra, ampliando o convento de forma a poder receber 300 monges. O facto da igreja estar já num estado bastante avançado implicou a sua manutenção, adaptando-se e ampliando-se o restante plano, ainda sob a responsabilidade de João Frederico Ludovice. As obras avançaram a um ritmo extraordinário e, de todos os pontos do reino chegaram trabalhadores, transformando Mafra num dos maiores estaleiros que o nosso país conheceu.
Sagrada a igreja em 1730, o restante complexo ainda demoraria a ficar totalmente concluído, por aqui passando uma série de arquitectos e todo um conjunto de pintores, escultores, entalhadores, boa parte dos quais italianos, que imprimiram uma magnificência extraordinária aos interiores do palácio, de que destacamos a Basílica e a Biblioteca, esta última numa fase mais tardia.
A igreja axial une os palácios do Rei e da Rainha, papel que a biblioteca desempenha no extremo oposto, envolvendo ainda o convento, estruturado em torno de um pátio. Nestas componentes áulicas, eclesiásticas, militares e de saber, se estrutura a ideia de D. João V, materializada num edifício que pela sua imponência e imenso estaleiro haveria de influenciar de forma inequívoca toda a produção arquitectónica e artística posterior, assinalando “a penetração definitiva do Barroco” no nosso país.
Pedro, 8º 1, nº 17
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